Cursos de jornalismo terão de ser repensados, avaliam professores

Isabel Vilela
Os mais de 300 cursos de jornalismo que existem no Brasil vão ter de ser repensados. Essa é a avaliação de professores e profissionais em relação à decisão do STF que suspendeu a obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão. "Não acho que isso vá acabar com os cursos, mas talvez ajude a diminuir os cursos fracos. Também deve provocar uma reflexão do nosso papel de jornalista, do nosso papel na sociedade", avalia a professora da Universidade de Brasília, Márcia Marques. A jornalista se vestiu de cozinheira para dar aula hoje na universidade; uma crítica à comparação entre as duas profissões feita pelos ministros do Supremo durante o julgamento. Para Márcia, os ministros fizeram um julgamento sem conhecer bem a matéria, desconsiderando que a profissão tem especificidades, exige conhecimento técnico, e envolve questões éticas e legais.O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF, Romário Schettino, também acredita que as faculdades vão continuar a oferecer os cursos, competindo no mercado para ver quais profissionais estão mais preparados para trabalhar. "As escolas também deverão se tornar mais eficientes. Porque o estudante vai pensar ‘qual é a vantagem de eu continuar estudando jornalismo se eu posso fazer outro curso?’, sugere Romário. Para o jornalista, a decisão da justiça vai ao encontro dos interesses das grandes empresas, que vão poder formar os jornalistas de acordo com suas próprias ideologias e modelos.Para o estudante Adalberto Nunes da Silva Júnior, 19, a decisão deve diminuir a concorrência nos vestibulares para os cursos de jornalismo do país. Ele participou do último processo seletivo da Universidade de Brasília disputando uma vaga para comunicação social e ainda aguarda o resultado, mas diz que não se sente desestimulado para iniciar o curso, se for aprovado. “Eu continuo querendo estudar jornalismo porque acredito que a graduação amplia meus conhecimentos em várias áreas diferentes”, conta Adalberto. O jovem pondera, entretanto, a possibilidade de pessoas formadas em outros cursos passarem por uma formação em jornalismo mais curta, um curso técnico por exemplo.Enquanto Adalberto ainda almeja se formar em jornalismo, estudantes que estão concluindo se sentem decepcionados com a decisão. “Para quem está se formando agora, como eu, é um desestímulo. Você passa quatro anos aprendendo sobre produção jornalística, estrutura da reportagem, valor-notícia, e agora pessoas que não são preparadas também podem ser jornalistas”, reclama Mariane Rezende Soares, 20, estudante do 7º semestre. Para ela, há interesses políticos por trás da decisão do STF. Os concursos públicos também não poderão exigir o diploma de jornalismo como pré-requisito para preenchimento de cargos. Em entrevista à Agência Brasil, hoje, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, afirmou que talvez se exija compatibilidade com alguma área, como comunicações de forma geral

Tentativa de regulamentação no Congresso

De acordo com a decisão do Supremo Tribunal Federal, o Decreto-Lei 972/1969, que regulamentava a profissão, é inconstitucional e fere a liberdade de imprensa. O julgamento do Supremo ocorreu ontem, quando oito, dos nove ministros, votaram pela inconstitucionalidade do decreto. A Federação Nacional dos Jornalistas classificou como retrocesso a decisão do STF. "O ministro ouviu o que dizem os barões da mídia e ignorou o que diz as ruas, pois nós divulgamos uma pesquisa em que 73% dos entrevistados aprovavam o diploma para o exercício da profissão", avaliou o diretor da Fenaj, José Carlos Torves. Já para a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a contratação de profissionais de outras áreas para trabalhar como jornalistas pode aumentar a qualidade dos jornais. "Os jornais vão continuar contratando jornalistas, mas a possibilidade de contratar talentos com outras formações vai enriquecer a produção jornalística", argumenta Ricardo Pedreira, diretor-executivo da associação. A Fenaj entregou ao Ministério do Trabalho uma proposta de regulamentação da profissão. Se for aprovado, o documento deve seguir para o Congresso para tramitação. Mas segundo José Carlos Torves é preciso aguardar a publicação oficial com a íntegra da decisão do STF. “Se a decisão proibir qualquer tipo de regulamentação inviabiliza a continuidade dessa proposta”, explica. No dia 17 de julho, a Fenaj vai se reunir em São Paulo com os 31 sindicatos do país para definir quais serão os critérios para a sindicalização de profissionais. Hoje, os sindicatos exigem o diploma. Segundo Torves, as normas ainda não estão definidas, os sindicatos tanto podem mudar quanto reiterar as atuais exigências.

OAB diz que acabar com obrigatoriedade do diploma no jornalismo foi “erro” do Supremo

Agência Brasil
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, classificou hoje como "um erro de avaliação” a decisão do Supremo Tribunal Federal que declarou inconstitucional a exigência obrigatória de diploma para o exercício da profissão de jornalista. Segundo Britto, a independência e a qualidade necessárias ao correto trabalho jornalístico são “obtidas somente com diploma e com o registro no Ministério do Trabalho. O primeiro garante a qualidade técnica e o segundo a qualidade ética.” Britto argumentou ainda que a legislação vigente até então já garantia reserva de mercado para outros profissionais atuarem na imprensa, por meio das figuras do colaborador e do articulista. "A decisão do STF, na minha compreensão, não observou corretamente qual é o papel do jornalista e a sua função na defesa da liberdade de expressão", afirmou o dirigente da OAB.

Um comentário:

Reino da Noruega ♔ disse...
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