Fraude em Cuiabá

Prefeito do PSDB é acusado de superfaturar obras do PAC e polícia investiga ligação do esquema com campanha de 2008

As obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em Cuiabá viraram caso de polícia. Onze pessoas foram presas, na segunda-feira 10, em operação da Polícia Federal (PF) sob a acusação de participar de um esquema de fraudes em licitações. O prefeito Wilson Santos (PSDB) é acusado de formar um conluio com empreiteiros para superfaturar orçamentos. A denúncia de irregularidades no PAC cuiabano foi publicada por ISTOÉ na edição 2072, de 29 de julho, e mostrou que a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou superfaturamento de R$ 15 milhões na construção da estação de tratamento de água Tijucal e pediu explicações à prefeitura sobre gastos de R$ 40 milhões. Segundo relatório da PF, os editais de licitação de sete lotes de obras continham cláusulas que direcionavam a escolha para o consórcio composto pelas construtoras Três Irmãos, Gemini, Concremax, Encomind e Lúmem Engenharia, com sede em Cuiabá."As licitações foram um simulacro com acertos, subornos, pagamentos indevidos, corrupção de servidores públicos, ameaças e uso de métodos de persuasão, próprios de estruturas criminosas", disse o juiz Julier Sebastião da Silva. Na operação, foram presos o suplente de deputado estadual e empreiteiro Carlos Avalone Júnior (PSDB) e o procurador-geral da prefeitura, José Antônio Rosa, ambos ligados a Santos.
As suspeitas começaram em 2007, a partir de investigação do TCU e da CGU que, ao identificar os problemas, pediram o cancelamento dos editais do PAC em Cuiabá. Em 2008, por meio de denúncia anônima, a PF soube previamente o resultado da licitação.Em entrevista, Santos se esquivou de qualquer responsabilidade. Mas o delegado Márcio Carvalho e o superintendente da PF no Estado, Oslain Santana, informaram que não está descartada a possibilidade de ligação entre as fraudes nas obras do PAC cuiabano com a arrecadação de recursos para a campanha eleitoral do PSDB à prefeitura em 2008.Por isso, embora não tenha sido decretada sua prisão, Santos continua sendo monitorado pelos agentes da PF. Ainda segundo a PF, além de o prefeito ser o responsável, como gestor público, por contratar, executar e fiscalizar as obras, escutas telefônicas, com autorização judicial, evidenciaram a relação dele com empreiteiros. Para não levantar suspeitas, revela o relatório policial, os encontros do prefeito com os representantes das empreiteiras ocorriam em São Paulo e numa casa situada na Chapada dos Guimarães (MT). Num dos diálogos interceptados, no dia 18 de abril de 2008, Rosa, procurador da prefeitura envolvido no esquema, agenda um jantar com um empreiteiro de nome Felipe, da Tejofran, uma das empresas que ganharam a licitação para o lote 2 do PAC, em Cuiabá.

Sérgio Pardellas

Collor, o acadêmico

Após reviver seu estilo virulento no Senado, o ex-presidente está prestes a virar imortal da Academia Alagoana de Letras



CANDIDATO ÚNICO Sem livro publicado, Collor tem muito apoio e nenhum concorrente


O senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) é candidato único a uma vaga da Academia Alagoana de Letras (AAL) e, obviamente, será chancelado imortal em eleição esta semana.A obra literária de Collor ainda não é visível: ele pretende lançar dois livros - um com os discursos feitos na vida pública e o outro, intitulado "A Crônica de um Golpe - A Versão de Quem Viveu o Fato", com seu relato sobre o impeachment que o tirou da Presidência da República, em dezembro de 1992, pouco mais de dois anos depois de eleito. A articulação de seu nome para a vaga aberta com a morte do poeta Ib Gatto, no ano passado, foi do escritor e promotor de Justiça aposentado Ivan Barros e conta com a adesão de todos os 40 membros da AAL. Barros aponta um terceiro e importante motivo para a indicação: "Collor é dono de uma empresa de comunicação (o jornal "Gazeta de Alagoas", entre outros) poderosa." O avalista do senador alagoano ressalta sua capacidade de liderança política e seu pendor intelectual e se orgulha da iniciativa: "Eu persuadi dois candidatos que queriam concorrer a desistir".Fora das belas paredes da instituição, entretanto, o clima é outro. "Não há legitimidade. Os requisitos deveriam ser literários e não políticos, ou por ele ser dono de jornal ", reage o advogado Adriano Argolo. Coordenador do Movimento Social de Combate à Corrupção Eleitoral em Alagoas, Argolo diz que a indicação de Collor à obscura AAL é uma estratégia política eleitoral para "ensaiar sua volta ao governo do Estado de Alagoas", patrocinado pelas "oligarquias alagoanas e pela política de coronelismo que reina no Estado." Outro conterrâneo, o poeta Lêdo Ivo, membro da Academia Brasileira de Letras, (ABL) diverge. "Ele preenche as condições. É autor de vários discursos, vai lançar um livro. Espero que entre, depois, para a ABL", disse. Avesso a qualquer academia, o poeta maranhense Ferreira Gullar apenas suspira e comenta: "Hoje, os critérios para entrar numa instituição dessa são os mais variados. Não me espanta que ele entre sem ter escrito nada. Está errado. Mas é assim que é agora."








Eliane Lobato

Grupo de voluntárias busca flagrantes de exploração de crianças e adolescentes


Toda quinta-feira e sábado, Tiago*, 10 anos, morador da Estrutural, levanta da cama às 4h para trabalhar nas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa), no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). A criança troca a rotina dos estudos por tarefas pesadas: carregamento e venda de frutas e verduras. O serviço rende R$ 50. A mãe do menino sabe que a atividade atrapalha o rendimento escolar, mas precisa do dinheiro. Pelo mesmo motivo permite que o outro filho, de 14 anos, a acompanhe até o local.Os dois garotos são exemplos em um universo de 1.537 crianças e adolescentes envolvidos com trabalho infantil no Distrito Federal (leia O que diz a lei), segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Social e Distribuição de Renda (Sedest). O levantamento foi realizado entre janeiro e julho deste ano. Ontem, servidores da Sedest e um grupo de moradoras da Estrutural, vinculadas ao Mulheres da Paz (1), registraram 49 meninos e meninas trabalhando na Feira dos Importados e na Ceasa.A entidade existe justamente para mudar essa realidade. As voluntárias percorrem lares de três cidades há cinco meses na tentativa de ajudar pessoas em situação de extrema pobreza e baixa escolaridade. Noventa integrantes do projeto moram na Estrutural, uma das regiões atendidas pelo grupo. A maioria é dona de casa, acostumada a ver violência e exploração. Para elas, o pagamento se faz pela satisfação em ajudar a comunidade. Na Estrutural, por exemplo, é comum ver crianças em comércios locais. Carregam compras em troca de moedas.Cada uma das voluntárias tem a meta de visitar 20 famílias por mês. O acompanhamento é constante. Toda semana, devem visitar a mesma casa, com a finalidade de verificar as mudanças de comportamento. Se encontram algum tipo de crime ou abuso, como espancamento e violência sexual, devem preencher uma ficha e entregar ao centro de referência da assistência social ou ao conselho tutelar mais próximos.Antes de entrar para o Mulheres da Paz, as interessadas recebem orientações de psicólogos e advogados. Aprendem a abordar as pessoas e a ter noções de direito. Elas trabalham uniformizadas e precisam de autorização da Sedest para exercer a função. “Somos mediadoras sociais. Nossa missão é trazer paz e dignidade para essas famílias”, explicou a dona de casa Cássia Pereira dos Santos, 24 anos, moradora da Estrutural.Nem sempre é fácil desenvolver o papel de uma Mulher da Paz. “Já tive que interferir em casos nos quais os pais, além de fazer os filhos trabalharem, batiam neles. Um padrasto chegou a quebrar um copo na cabeça de um menino”, contou Maria do Carmo Machado, 29. “O pior é que são meus vizinhos de porta. O que ocorre com eles, influencia meus filhos. Avisei ao casal que iria denunciá-lo. Depois disso, ele passou a ter medo de agir. E a mãe tomou coragem e denunciou o marido”, acrescentou.FiscalizaçãoCrianças do Entorno representaram 32% dos casos de trabalho infantil identificados pela Sedest em 2009. Elas saem de casa e vão, principalmente, para a Rodoviária do Plano Piloto, setores bancários e comerciais Sul e Norte, de acordo com a gerente de proteção social especial de média complexidade da Sedest, Valéria de Sousa Lima. O órgão não tem poder para punir empresários que exploram o trabalho infantil. Mas os agentes podem denunciá-los à Delegacia do Trabalho.Depois das abordagens de ontem, o coral de crianças da Associação Viver, instituição conveniada à Sedest, se apresentou na Feira dos Importados. Os 35 meninos e meninas estavam em situação de risco e agora participam do projeto como voluntários. “Eu vivia na rua, brincando. Não fazia nada de bom. Hoje, sei cantar e quero mostrar para as pessoas o meu talento”, afirmou o estudante Bruno Alves da Silva, 8.1 - VoluntariadoO projeto Mulheres da Paz foi criado em março deste ano. A Sedest selecionou 200 mulheres para atuar na Estrutural, Itapoã e Paranoá. A missão das voluntárias é se aproximar de famílias que têm problemas e tentar mudar a rotina de violência na comunidade onde moram.

O QUE DIZ A LEIA

proteção ao menor aparece no artigo sétimo da Constituição Federal. Proíbe o trabalho noturno, perigoso ou insalubre ao menor de 18 anos e de qualquer atividade remunerada a menores de 16 anos, salvo se aprendiz, a partir de 14 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) reforça o direito de proteção no trabalho. Estabelece também direitos básicos para crianças e adolescentes, exigindo a formação dos conselhos dos direitos das crianças e adolescentes e conselhos tutelares. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê que a empresa que explora a mão de obra infantil está sujeita a multa mínima de R$ 402,53 por criança empregada. O valor da penalidade pode dobrar se a empresa tiver histórico de exploração infantil

Os cavaleiros do apocalipse

A troca de insultos e ameaças entre parlamentares leva o senado a seu pior nível na história, praticamente elimina a possibilidade de punições e aponta o tom que terá a campanha eleitoral do ano que vem

FÚRIA Para defender Sarney (à esq.), Collor se dirige a Simon (centro) com olhar ameaçador: "Engula suas palavras." Simon depois afirmou ter ficado com medo

OFENSAS Aliado de Virgílio (à dir.), Tasso (abaixo) diz que Renan tem os dedos sujos, é chamado de coronel e retruca dizendo que Renan é cangaceiro

Também conhecido como a Câmara Alta, o Senado, que deveria ser um dos pilares do Estado Democrático de Direito, desceu ao patamar mais degradante de toda a sua história. Nas últimas semanas, líderes partidários, ex-governadores de Estado e até ex-presidentes se desnudaram de seus mandatos parlamentares para vestir o figurino dos cavaleiros do apocalipse. O plenário, que deveria ser o palco dos grandes debates de interesse nacional, se transformou T em um deplorável cenário do embate de conflitos pessoais e partidários. Discursos acalorados e ameaças sem disfarces que caberiam melhor na boca de moleques de rua do que em homens bem trajados foram transmitidos para o País e o que o brasileiro assistiu foi a um vergonhoso espetáculo de troca de acusações mútuas, capaz de mostrar que todos se benefi- ciam do bem público. Poucos escaparam da derrocada ética e o decoro parlamentar virou letra morta. Não houve socos e pontapés, mas o Senado foi a nocaute. Num raro momento de lucidez, em meio à grave crise moral, o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) fez um desabafo que sintetiza o sentimento da nação: "Apodreceram os senhores senadores. A Casa está desmoralizada, com seus homens desmoralizados pelos fatos", afirmou.Ao eleitor a quem até a abertura das urnas no próximo ano não resta mais a fazer senão acompanhar perplexo até onde pode chegar o Parlamento, fica a convicção de que por trás das agressões não está a busca pela retomada da moralidade ou da ética, mas a certeza de que ninguém será punido. O que aconteceu para o Senado chegar tão baixo? "A nação está estarrecida com esses fatos. Cada dia que você acha que chegou ao fundo do poço, vê que o fundo do poço é mais embaixo", avalia o cientista político Antônio Lavareda. Na reabertura dos trabalhos legislativos, na segunda-feira 3, o plenário do Senado foi palco da primeira baixaria. De um lado, o grupo favorável à permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência da Casa. De outro, a ala disposta a tudo para apeá-lo do cargo. No rastro de um discurso do senador Pedro Simon (PMDB-RS), pedindo a renúncia de Sarney, o grupo liderado por Renan Calheiros (PMDB-AL) reagiu com virulência. Com os olhos esbugalhados, fora de órbita e exibindo seu descontrole colérico, o senador Fernando Collor (PTB-AL), reencarnou o estilo "bateu, levou", da época em que presidiu o Brasil, entre 1990 e 1992, antes de ter o mandato cassado. De dedo em riste, Collor mandou Simon engolir as palavras, ameaçando revelar episódios que o deixariam em apuros. "São palavras que não aceito! Quero que o senhor as engula e as digira como achar conveniente", esbravejou. "Evite pronunciar meu nome, porque da próxima vez que tiver que pronunciar o seu, eu gostaria de relembrar alguns fatos e momentos extremamente incômodos para V. Excelência." Ao que Simon respondeu: "Fale agora!" "Falarei quando for oportuno", retrucou Collor, que permaneceu, até o fim do discurso de Simon, encarando-o de forma ameaçadora, sem desviar o olhar. No dia seguinte, Simon disse à ISTOÉ que não se sentiu ameaçado de morte, diante de antecedente histórico da família de Collor (leia reportagem à pág. 40), mas admitiu ter sentido medo. "Foi assustador, saía fogo dos olhos do senador Fernando Collor ali logo embaixo de mim. E eu não falei nada demais. Quando vi, ele entrou completamente transtornado", lembrou Simon, que fez um questionamento formal ao senador do PTB para que ele esclarecesse o que quis dizer em plenário. Na terça-feira 4, cinco partidos voltaram a pedir a renúncia de Sarney. O porta-voz da iniciativa foi o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM). "Senador José Sarney, case-se com a sua biografia. Deixe o cargo. Esse mandato não representa nada para V. Excelência", desafiou. À noite, numa reunião no gabinete da presidência, Renan Calheiros, Gim Argello (PTB-DF) e Fernando Collor entenderam que aquele era o momento mais propício para um novo discurso de Sarney.
Em casa, ao lado do advogado Eduardo Ferrão, Sarney optou por um pronunciamento técnico e passou em revista cada palavra do discurso feito na quarta-feira 5. Paralelamente, a pizza já assava no forno do Conselho de Ética, colegiado onde 70% dos integrantes são alvo de inquéritos autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF), réus em ações penais ou envolvidos com nepotismo e atos secretos nos últimos anos. Com a maioria governista e presidido pelo senador Paulo Duque (PMDB-RJ), o Conselho iniciara seus trabalhos disposto a arquivar os processos contra Sarney. A sessão foi interrompida para que todos acompanhassem o discurso do presidente do Senado no plenário. Com a ajuda de power point, Sarney tentou esclarecer as denúncias. Classificou-as como "menores", baseadas em "recortes de jornais", e descartou o afastamento do cargo. Cometeu contradições, principalmente em relação à contratação de amigos e parentes (leia quadro à pág. 40). Seu pronunciamento, sem citar os adversários, serviu para que o clima de acordão prevalecesse. Terminado o discurso, o Conselho de Ética arquivou três denúncias e uma representação das dez ações que pediam abertura de processo para cassação do mandato de Sarney. Vieram novos arquivamentos depois.Parecia que a crise no Senado caminhava para um desfecho e que ninguém seria punido por atos secretos que misturam público e privado e nepotismos de toda ordem. Mas na quinta-feira 6, novamente os interesses partidários e pessoais se impuseram. Numa retaliação às investidas do PSDB contra Sarney, Renan leu em plenário a representação do PMDB contra o líder tucano Arthur Virgílio por quebra de decoro. Há inclusive documento mostrando que despesas com a saúde da mãe de Virgílio foram pagas pelo Senado e recursos superiores a R$ 600 mil foram depositados na conta do senador.Virgílio subiu à tribuna para relembrar as acusações feitas nos últimos anos contra o peemedebista. Foi o suficiente para o bate-boca de moleques voltar a ter espaço na Câmara Alta. O tucano Tasso Jereissati (CE) pediu para Sarney retirar das galerias uma pessoa que estaria ofendendo os líderes do PSDB. Renan reagiu. "Essas crises acontecem por isso. É a minoria com complexo de maioria. Quer expulsar agora um cidadão que está aqui participando da sessão, que é uma sessão infelizmente histórica do Senado", disse, apontando o dedo para Tasso. Irritado, Tasso revidou: "Senador Renan, não aponte esse dedo sujo para cima de mim." "Dedo sujo infelizmente é o de V. Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou", disse Renan. "Pelo menos era com o meu dinheiro, o jato é meu. Não é o jato que você anda dos seus empreiteiros. É meu, é meu, é meu!", devolveu o tucano. Neste momento, Renan, fora do microfone, chama Tasso de coronel de merda. "Eu coronel? Cangaceiro! Cangaceiro de terceira categoria!", rebateu Tasso. "Como brasileiro, fico muito triste ao me deparar com uma cena como essa. A coisa se acirrou a tal ponto que tudo se radicalizou e parece que isso não terá fim", afirma Maurício Corrêa, ex-senador, ex-ministro da Justiça e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. Horas depois do bate-boca, Sarney esforçou-se para dar uma justificativa em entrevista à ISTOÉ. "Eles estavam jogando com o meu temperamento, mas a toda ação corresponde uma reação. E o senador Arthur Virgílio não para de nos insultar", disse Sarney, reconhecendo que o momento é lamentável. A crise do Senado é um trailler do que será a eleição de 2010. Ao escalar cavaleiros como Collor e Renan para lutar pela manutenção de Sarney no comando do Senado, o presidente Lula olha para a sucessão. Com a base aliada fortalecida, ganha a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A oposição trabalha com o mesmo horizonte. Assumir o controle do Senado às vésperas da disputa pela Presidência da República é o pulo do gato. Além de brecar projetos de interesse do Executivo nos meses que antecedem à eleição, uma eventual saída de Sarney enfraqueceria os caciques hoje alinhados a Lula e poderia levar o PMDB para o colo de José Serra ou de Aécio Neves, ambos pré-candidatos do PSDB. Resta saber, porém, se o Senado conseguirá resgatar sua credibilidade após viver dias de briga de rua.O nível hoje é tão rasteiro que até mesmo as interpretações políticas ficam comprometidas. "Tem que mudar um conjunto de atitudes, em relação ao que significa ser representante do povo num Parlamento moderno, de uma sociedade moderna, com moeda forte, em que o cidadão tem noção exata de quanto ele gasta na sua vida privada e pública", diz o antropólogo Roberto DaMatta. Nesse sentido, quem melhor poderá responder à crise serão os eleitores em 2010, quando 70% dos senadores deverão ir às urnas para renovar o mandato. Caberá aos eleitores separar o joio do trigo. Se é que ainda há trigo nesse ambiente de terra arrasada. "A única certeza é a de que os atores não estão correspondendo a seus papéis", conclui DaMatta. Colaborou Hugo Marques (DF)







A bela do clã Sarney

Flagrada ao pedir emprego para o ex-namorado, Bia se diz injustiçada




Uma das seis netas do presidente do Senado, a advogada Maria Beatriz Brandão Cavalcanti Sarney tornou-se personagem dos escândalos que atingem seu avô José Sarney ao ser flagrada por escutas da Polícia Federal. Bia, como é conhecida, entrou no olho do furacão ao pedir ao pai, Fernando Sarney, um emprego no Senado para o ex-namorado Henrique Dias Bernardes. Ela própria recebeu uma ajuda do avô, em 2004, quando ganhou uma vaga de assessora internacional no Superior Tribunal de Justiça. "Atendi, sim, a um pedido do Sarney para botar a Beatriz no STJ, cumpro a minha palavra", confirma o ex-presidente do STJ Edson Vidigal. "Eu não me arrependo, a menina é muito competente e estão fazendo uma injustiça com ela", diz o ex-ministro. Em entrevista à ISTOÉ, Bia afirma que se saiu bem em suas funções e nega que tenha se utilizado do sobrenome para conquistar qualquer privilégio. "Não sou a filhinha de papai idiota que pintam por aí, que vive dependendo de favores. Isso não corresponde à realidade", diz. Ela conta que foi acusada até de não possuir diploma universitário quando entrou no STJ."Eu era pós-graduada", explica. "Sou advogada, fico chateada com essas coisas, minha profissão requer muita discrição, muitos dos meus clientes não querem ver minha imagem vinculada a este tipo de notícia." Sobre o pedido que fez ao pai para encaixar o ex-namorado Henrique no Senado, ela diz que é outra injustiça. "Ele nem era meu namorado na época que foi contratado, é um menino inteligentíssimo, que se formou em física pela UnB, e estava precisando de uma oportunidade", diz. Para Bia, é "inexplicável" a sensação de ver seu nome envolvido no escândalo. "Você não sabe quanto isso interfere, mas não tenho medo, sei a profissional que sou, sei o que consegui pelos meus próprios méritos", defende. "O que fazem hoje é transformar a reputação da pessoa numa calamidade." Sobre o avô, ela acha que a história fará justiça. "Meu avô está sendo extremamente injustiçado pelos seus próprios pares. Ele contribuiu muito para a formação política desse país." Apesar do envolvimento de seu nome no escândalo, Bia é apontada por amigos da família como a neta que menos gozou dos privilégios do clã. Ela é filha de Fernando com a procuradora Elisa Maria Brandão Cavalcanti e só ficou sabendo que era neta de Sarney na adolescência. Aos 31 anos, não participa das festas da família no Maranhão, ao contrário das outras filhas de Fernando com Tereza Murad. Bia também é neta do ex-ministro do Meio Ambiente Henrique Brandão Cavalcanti e bisneta do constitucionalista Themístocles Brandão Cavalcanti. Na faculdade, defendeu uma tese sobre a cessão de jogadores profissionais dos clubes para as seleções, abordando o direito de imagem. "Ela foi aprovada com tranquilidade", diz o orientador Roger Stiefelmann Leal. "É uma garota aplicada." Bia deixou os ex-chefes impressionados."Ela valia muito mais pelo Brandão Cavalcanti do que pelo Sarney", brinca o jurista Délio Lins e Silva, que a empregou como estagiária e ganhou dela um livro do avô constitucionalista. "Estou com pena, esse negócio de pedir emprego complicou a vida da menina." Hoje, Bia trabalha no escritório de Luiz Antonio Bettiol. "Ela tem qualidades de uma boa advogada e é muito empenhada", elogia Bettiol. Fora do trabalho, Bia é uma moça alegre, sorridente, que adora sair à noite. Na Asa Sul, um dos locais que ela freqüenta é o pub irlandês O'Rilley.O proprietário, Luiz Carlos Carvalho, se considera um "superamigo" de Bia e diz que ela é uma pessoa do bem. "Pedir emprego foi um deslize, uma coisa da cultura impregnada na cabeça das pes soas que moram em Brasília", critica Carvalho. "Acho que ela não queria botar o ex-namorado no Senado só para ele mamar nas tetas do poder. Isso não é de seu estilo". Os que convivem com Bia dizem que ela tem personalidade forte.Quando Vidigal decidiu deixar o STJ em 2006 para se candidatar ao governo do Maranhão, entrou no lugar dele o ministro Rafael Monteiro de Barros Filho. Sua primeira providência foi baixar um ato exonerando 40 pessoas nomeadas por Vidigal. Bia estava na lista. Ela ficou furiosa por ficar sabendo da demissão pelo "Diário Oficial" e foi à secretária-geral do STJ, Ana Luísa, para reclamar: "É uma falta de respeito, ficar sabendo da demissão assim", esbravejou. "Isso é um absurdo." Naquele momento, sentiu na pele o peso de carregar o sobrenome Sarney.

A NETA-PROBLEMA

Hugo Marques Flagrada ao pedir emprego para o ex-namorado, Bia se diz injustiçada Ao contrário de Maria Beatriz, quem complicou a vida da família na Polícia Federal foi outra neta do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP): Ana Clara Murad Sarney, filha de Fernando com Teresa Cristina Murad Sarney. Em um relatório de inteligência da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros, a Polícia Federal acusa Ana Clara de participar ativamente "das atividades ilícitas da família". Tal conclusão foi feita após a PF monitorar as mensagens de e-mail trocadas por Ana Clara e sua mãe, nas quais foi descoberto em anexo um pedido de movimentação de US$ 1 milhão no Hong Kong and Shanghai Banking Corporation.A operação foi intermediada pelo HSBC em Nova York. Os dias que antecederam à troca da mensagem foram marcados por várias ligações entre Fernando Sarney, Teresa e Ana Clara, diz a PF. Ana Clara foi incluída no quadro societário da São Luis Factoring, da família Sarney. A empresa é investigada por sonegação e lavagem de dinheiro.

O inquérito que ameaça Sarney

ISTOÉ teve acesso ao documento da pf sobre as estripulias do filho do presidente do Senado - e elas mostram mais que nepotismo

Um inquérito de três volumes da Polícia Federal ao qual ISTOÉ teve acesso na última semana pode ser decisivo para o destino do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O relatório de 157 páginas elaborado pelo setor de inteligência da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros condensa toda a investigação da chamada Operação Boi Barrica, um conjunto formado por gravações de 150 horas de conversas telefônicas, mensagens eletrônicas interceptadas e declarações de renda recolhidas pela Receita Federal por dezenas de pessoas físicas e jurídicas.O alvo principal do inquérito é o empresário Fernando Sarney, único filho do presidente do Senado que não se submeteu às urna, mas é responsável pelos negócios da família. No documento, Fernando é tratado como membro de "primeiro escalão" de uma "organização criminosa", auxiliado por Astrogildo Quental, diretor financeiro da Eletrobrás, e Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia, ambos ligados politicamente ao senador José Sarney.As conversas gravadas pela PF mostram que a atuação de Fernando Sarney nos bastidores do ministério e de estatais não se limita à prática de nepotismo. "além de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro, temos convicção de que houve tráfico de influência de forma a colocar o que é público a serviço do privado", diz um dos delegados que participaram das investigações. O ponto de partida do inquérito foi a criação da empresa São Luis Factoring e Fomento Mercantil, uma empresa sem funcionários que funciona na sede do Grupo Mirante, a holding de empresas de comunicação da família Sarney, em São Luís (MA). Entre 2002 e 2006, a São Luis Factoring declarou receita bruta de R$ 1,7 milhão. Mas no mesmo período teve movimentação financeira 24 vezes maior, de R$ 41,6 milhões, segundo análise da Receita Federal. Diante da possibilidade do crime de sonegação fiscal, a Justiça Federal autorizou a abertura do sigilo fiscal, bancário e telefônico da empresa e de seus proprietários. Na Justiça, os advogados de Fernando afirmam que não há crime em abrir uma factoring para resolver os problemas financeiros do próprio grupo. Mas, em conversas telefônicas interceptadas em janeiro de 2008, a mulher do empresário, Teresa Cristina Murad Sarney, sócia da factoring, menciona a um interlocutor "aquele dinheiro que a gente sacava na época da campanha". O relatório mostra que a PF descobriu movimentações de R$ 2 milhões que fariam parte de um suposto caixa 2 utilizado na campanha derrotada de Roseana Sarney rumo ao governo do Maranhão em 2006.Em um pente-fino nas contas da Televisão Mirante e da Gráfica Escolar, a PF descobriu que estas empresas declararam, em cinco anos, R$ 25 milhões em "despesas financeiras", ou seja, a rubrica onde são lançados pagamentos a título de comissão ou deságio pela utilização do serviço de factoring. A polícia diz que a factoring fez movimentações para a família. Ana Clara Murad Sarney, filha de Fernando Sarney, chegou a mandar um e-mail para a mãe com um pedido de movimentação de US$ 1 milhão no Exterior. "Ana Clara participa ativamente das atividades ilícitas da família", registrou a PF no documento.


A Lupama Comércio, que pertence a Gianfranco Perasso e Flávio Lima, colegas de faculdade de Fernando, não tem, segundo o relatório da PF, capital social nem sede, mas ficou responsável por um contrato de R$ 250 milhões. A PF monitorou encontro de Gianfranco em Brasília com Silas Rondeau e com Ulisses Assad, diretor da Valec. Silas seria sócio de empresas que operam o esquema, como a PRX Engenharia, segundo documentos obtidos pela PF.Os agentes interceptaram e-mail que Silas recebeu do vice-presidente da Engevix Engenharia, José Antunes Sobrinho, negociando preenchimento de contratos no setor elétrico. "O grupo pode estar se utilizando de sua influência no meio para obtenção de vantagens", diz o documento da PF. "Sobretudo com a participação de exploração no setor mediante a utilização de pequenas centrais hidrelétricas." O grupo ligado a Fernando também fechou contrato para venda de ações da Energética Corumbá III, tendo como cliente final a Eletronorte. É quando aparece o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, velho aliado da família Sarney. A PF monitorou ligação em que os interlocutores falam em "pressionar" o ministro Lobão para receber o Citibank em audiência. Nos diálogos com Astrogildo, Fernando fala sobre indicações para postos na Eletrobrás."Vou ver se eu consigo com o Lobão, em Brasília, semana que vem", diz ele, sobre uma suposta reivindicação do grupo no Ministério de Minas e Energia.Foi nesse pacote de 150 horas de gravações que a PF registrou o caso de nepotismo no Senado, divulgado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" na última semana. O episódio relaciona diretamente o presidente do Senado aos atos secretos.Uma sequência de seis diálogos entre 30 de março e 2 de abril de 2008 mostra a facilidade de Fernando para nomear, no Senado, Henrique Dias Bernardes, namorado de sua filha Maria Beatriz.Na primeira conversa, Beatriz pede ao pai para empregar o namorado na vaga do irmão, que estava deixando o cargo. Fernando diz que não haverá problema e pede à filha para conversar como o ex-diretor do Senado, Agaciel Maia. No último diálogo, Fernando fala com o senador Sarney. Depois de pedir a benção, diz que a nomeação de Henrique já fora acertada como Agaciel e que bastaria o senador falar com o diretor da Casa para finalizar o caso. Sarney responde: "Tá bom. Vou falar com ele". Henrique trabalha meio período na diretoria do Centro Médico do Senado e recebe R$ 2,7 mil por mês.

"Obrigado, papai"Diálogos interceptados pela Polícia Federal mostram a influência de Fernando Sarney em todas as esferas do poder
Senado
31 de março de 2008 Bia (neta de Sarney) fala com o pai sobre a indicação do namorado para um cargo no Senado.
Fernando Sarney: Eu vou falar com o papai ou eu mesmo com o Garibaldi amanhã aí em Brasília, porque é o único jeito de resolver. Bia: Tá bom. FS: E, se for o caso, pra ele já levar tudo do Henrique e já dizer: 'Ó, a pessoa que o Fernando quer botar é essa aqui.'
2 de abril de 2008 O senador José Sarney conversa com o filho Fernando sobre o emprego do namorada da neta Sarney: Alô. FS: Benção, pai.Sarney: Deus lhe abençoe. Olha, você não tinha me falado o negócio da Bia... FS: Não, não, ela falou comigo sextafeira... Eu falei com o Agaciel. Sarney: Já falou com o Agaciel? FS: Eu falei, falei. Sarney: Tá bom. Eu vou falar com ele... Ontem, foi assinado o negócio da TV de Estreito, a repetidora. FS: Foi? Sarney: É. FS: Beleza, ótimo. Isso é uma boa notícia. Sarney: Tá bom. FS: Ótima notícia, tá, paizão, obrigado.
Banco do Brasil
26 de março de 2008 Fernando Sarney conversa com exsenador Maguito Vilela, à época vice-presidente do Banco do Brasil, indicado pelo PMDB. Maguito Vilela: Eu precisava falar com você na quarta-feira.FS: Eu lhe prometo o seguinte... Você está no Banco do Brasil, né? MV: Tenho estado muito com o seu pai. FS: Amanhã, eu vou passar em Brasília. Seu eu conseguir passar cedo, eu lhe aviso e a gente já conversa.
Superior Tribunal de Justiça
28 de março de 2008 As conexões de Fernando Sarney também se estendem aos tribunais. Ele conversa com o pai sobre o andamento de um processo. Sarney: Olha, o processo foi distribuído, o novo, para o Galotti. FS: Certo. Sarney: Se puder falar com o seu amigo pra dar uma palavrinha... tá? FS: OK, pra fazer a mesma coisa. Sarney: O que foi feito lá no STJ.
Os CDs que vazaram na Justiça Federal do Maranhão ainda poderão trazer muitas novidades. Candidato ao governo do Rio Grande do Sul pelo PT, o ministro da Justiça, Tarso Genro, diz que o vazamento de informações sob segredo de Justiça é "natural". Uma das poucas pessoas que saíram em defesa de Sarney foi o presidente Lula, que de novo pediu cuidado com a biografia do acusado. Sarney é hoje um dos principais pilares da frágil base de sustentação do governo no Senado, que se ruir pode comprometer o sonho do PT de eleger a ministra Dilma Rousseff à Presidência em 2010. O filho mais velho de Sarney não tem voto. No entanto, sua maneira de agir o coloca como o 82º senador do Brasil. Não por ter apresentado projetos de lei, mas pela capacidade de usar a influência da família para se envolver em práticas que a sociedade repudia
Hugo Marques

O estrategista da oposição

PSDB monta bunker na CPI da Petrobras e escala ex-senador Antero Paes de Barros para atuar nos bastidores


A CPI da Petrobras vai tirar das sombras um dos quadros mais atuantes da oposição e que estava afastado do Senado desde 2006. Trata-se do tucano Antero Paes de Barros, que foi escalado para comandar uma espécie de "Quartel-General (QG)" do PSDB cujo objetivo será o de reunir munição contra a estatal presidida por José Sérgio Gabrielli.O bunker tucano vai ser instalado em uma sala anexa ao gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), para o qual também já foram recrutados técnicos do TCU. Pelo menos 12 assessores altamente qualificados trabalharão diuturnamente no QG para alimentar as denúncias contra o governo. O convite partiu do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), com quem Paes de Barros mantém uma antiga relação de amizade. "Houve realmente o convite, só não haverá necessidade de eu estar no comando direto desse projeto", nega Paes de Barros.

Pelo fato de conhecer como poucos os meandros do poder e transitar com discrição nos bastidores, Paes de Barros já foi batizado no meio político como "Zé Dirceu da oposição" - em referência ao ex-ministro petista. Apesar do seu retorno aos holofotes a partir da instalação da CPI da Petrobras, Paes de Barros já trabalha com afinco visando às eleições de 2010. Segundo apurou ISTOÉ, em Mato Grosso, seu Estado, ele tem atuado ao lado de seu dileto amigo e fiel escudeiro, o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB), na tentativa de retardar ao máximo as obras do PAC na capital mato-grossense. A estratégia, definida numa reunião com caciques tucanos, é não dar um palanque forte para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, em Mato Grosso, que é uma das principais apostas eleitorais do PSDB em 2010.A tática parecia estar dando certo. As obras em Cuiabá do chamado ETA Tijucal, orçadas em R$ 124 milhões, estão paradas. "De fato alguns itens não estavam de acordo com a tabela exigida pelo governo federal, fizemos uma repactuação e as obras dependem de uma nova autorização da Caixa", confirmou Aparecido Alves, gestor do PAC cuiabano. Em março, a Controladoria-Geral da União (CGU) identificou um superfaturamento no PAC cuiabano de R$ 15 milhões. Mas agora, em novo relatório de 50 páginas, a CGU pede que a prefeitura detalhe a utilização de R$ 40 milhões. Segundo a Controladoria há indícios de novo superfaturamento e da existência de um conluio do prefeito Santos com empreiteiros. Ou seja, há risco de um efeito bumerangue. "Acho estranha a posição da CGU, já que estamos fazendo de tudo para nos adequar às exigências", alegou Alves. Procurado, Santos não retornou as ligações. Sua assessoria informou que ele estava em viagem oficial.


Sérgio Pardellas